sábado, 21 de julho de 2007

VÔO JJ 3054 – DESESPERO E PERPLEXIDADE

A culpa de todos nós...

Diante de mais um trágico acidente na história da aviação brasileira, continuamos fazendo conjecturas na busca de culpados pela morte de tantos inocentes e pela agonia e sofrimento de seus familiares e amigos... Na verdade, vários fatores podem ter contribuído para que mais esse pesadelo estarrecesse nosso País! A liberação prematura da pista central, sem ranhuras; o reverso que foi desativado em razão da pane ocorrida dias antes da tragédia; o comprimento da pista, incompatível com o porte e peso da aeronave; a derrapagem ocasionada pela chuva e talvez até problemas operacionais! Falha humana ou falha mecânica? Continuar questionando tudo isso de nada adianta pois a fatalidade já aconteceu... O que deve nos preocupar nesse momento é não deixar que esse acidente gravíssimo seja apenas mais um motivo para manifestarmos nossa repulsa diante da incompetência, descaso e negligência de nossos governantes e também da ganância e irresponsabilidade das companhias aéreas!

Cabe lembrar o desabafo do sr. Cláudio Candiota Filho, presidente da ANDEP - Associação Nacional em Defesa dos Direitos dos Passageiros Aéreos: - “Não é possível continuar assistindo ao massacre de inocentes. O caos aéreo e as tragédias começaram a ocorrer, exatamente, a partir do momento em que se retirou do Ministério da Aeronáutica a administração do Sistema de Aviação Civil. Isso não é coincidência. É o resultado da desprofissionalização do setor, da falta de subordinação entre órgãos e da quebra da hierarquia do sistema. A Aeronáutica, organização altamente profissionalizada (e imune a loteamentos de cargos), administrou a aviação no Brasil de 1941 até março de 2006. Foram 65 (sessenta e cinco) anos de gestão. Sessenta e cinco anos sem que nada sequer parecido com o que ocorreu nos últimos treze meses tivesse se verificado. Profissionais (militares) foram sendo substituídos por militantes políticos inexperientes. Órgãos que compõem o sistema de aviação civil foram inoculados com essa anomalia brasileira que a cada quatro anos distribui vinte e cinco mil cargos. Essa prática é inédita no mundo. Igualmente inédito é o caos aéreo brasileiro, que não encontra precedente em toda a história do transporte aéreo mundial, desde Santos Dumont. Pelo amor de Deus, devolvam o comando da aviação civil do País ao Ministério da Aeronáutica, única maneira de blindá-la a essa prática que está acabando com a administração pública. Acabem com o Ministério da Defesa e com a ANAC. Restabeleça-se o organograma que administrou a aviação do Brasil, de 1941 até a criação dessas duas peças inúteis. O que mais precisa acontecer? A aviação simplesmente não funciona sem profissionalismo, disciplina e hierarquia. Isso não existe mais. Enquanto esses três requisitos estiverem ausentes, o caos aéreo, as tragédias e as mortes vão continuar.”

Segundo Cláudio Candiota Filho existe a possibilidade de o Brasil ser rebaixado do Grupo 1 do Conselho Executivo da Organização de Aviação Civil Internacional (OACI) em função do caos no sistema aéreo nacional e que as companhias aéreas brasileiras podem ser impedidas de voar para destinos como Estados Unidos e Europa. A Embraer também corre o risco de ter problemas para conseguir licenças e homologações para as aeronaves que fabrica.

Aceitemos ou não, somos governados por aqueles a quem elegemos direta ou indiretamente. O brasileiro acostumou-se a “espernear” diante de tudo que lhe causa dor, aborrecimento, insegurança e insatisfação, para depois “fazer piada” de seus dramas pessoais e coletivos... Se teimarmos em continuar agindo dessa forma, por que então, nos escandalizar com palavras, comportamentos e gestos inconvenientes de políticos que demonstram deboche e irreverência ao serem indagados sobre as crises que envolvem o Brasil? Isso precisa acabar! Todos nós clamamos por justiça, segurança e dignidade, contudo, ainda são poucas as pessoas que realmente fazem alguma coisa visando um compromisso significativo como cidadão brasileiro. Piadas, críticas irreverentes e indignação não edificam nada, apenas demonstram que continuamos um ”bando de idiotas” confirmando o que nossos governantes acham de nós, o povo, que eles enganam e manipulam...

Façamos a nossa parte – por mínima que seja, dentro de nossas possibilidades! De que forma? Educando com amor, transmitindo valores éticos que devem permear a formação familiar, o aprendizado na escola e o convívio social. O ser humano perdeu os referenciais éticos e está transformando sua vida numa experiência desastrosa com conseqüências sombrias, portanto, a educação é o único caminho seguro para o resgate de valores já esquecidos, como: responsabilidade, integridade, respeito, gratidão, generosidade, honestidade, justiça e solidariedade. Para mudar o futuro de nosso País é necessário assumirmos com urgência, o nosso papel, o de ensinar e também aprender, trocando experiências e acreditando no potencial extraordinário de cada um de nós, para o bem de todos!